Exemplo de superação, Osmar Pavesi constrói com os outros sentidos o mundo que não vê com os olhos 2w4p5q

Pedagogo responsável pelo setor de braile e audiolivros da Biblioteca Pública de ville convida demais cegos a descobrirem mundo por meio do conhecimento e da leitura

 

“Acredito no trabalho como forma de

conquistar não apenas o material,

mas também, e talvez, principalmente,

espaços sociais, amigos, amores e a realização pessoal.”

Fabrício Porto/ND

Pavesi diante da Biblioteca Pública Rolf Colin, onde trabalha, e ingressou por meio de concurso público, sem auxílio de cota para deficientes

Ao contrário do personagem Virgil, interpretado por Val Kilmer no filme “À Primeira Vista”, que ficou cego e precisou reaprender tudo, Osmar João Pavesi (fã do filme) não tem lembranças visuais além de vultos. Sua trajetória foi totalmente às cegas. “Tenho uma vaga lembrança de vultos e das cores primárias, mas só conheço formas por descrições ou pelo tato. Por um lado, foi bom, pois não tive o prejuízo de perder lembranças, e não enxergar foi um processo natural, que me obrigou a buscar a autonomia de que desfruto hoje”, diz, com a autoridade de quem se formou, buscou aperfeiçoamento e vem marcando seu lugar na sociedade.

Hoje responsável pela seção de braile e audiolivros da Biblioteca Pública de ville, Pavesi também dá aulas, presidiu a entidade que congrega os cegos da cidade, exercita sua vocação para o voluntariado e é um incansável batalhador pela ibilidade e pela inclusão dos deficientes.

Caçula de três irmãos, todos cegos devido ao glaucoma, Osmar Pavesi nasceu em Vidal Ramos, em 1968, mas criou-se no bairro vilense do Boa Vista, onde a família se radicou. “Até hoje, sábado é dia de almoço na casa dos pais, com filhos, netos, genro e noras”, conta, destacando que o pai, depois de trabalhar na Tigre e na Tupy, foi um dos pioneiros no transporte escolar de cegos em ville. “Eu e meus irmãos estudamos numa sala especialmente cedida pelo Colégio dos Santos Anjos à Sociedade de Amparo à Criança, antes de armos ao ensino regular no mesmo colégio. Todos somos gratos à professora Aurélia Silvy, uma batalhadora, criadora da Ajidevi”, dá o crédito a Aurélia (Perfil em julho de 2012), que foi uma das fundadoras da Associação vilense para Integração dos Deficientes Visuais e da Adej, a As­sociação dos Deficientes Físicos de ­ville.

 

Divulgação/ND

Na biblioteca, recebendo crianças de um CEI

 

 

Do rádio para o serviço público

 

Formado no ensino médio em 1986, Pavesi foi ao mercado de trabalho, enquanto se decidia por uma carreira – o que demorou 18 anos. “Graças ao Nilson Gonçalves, na época dirigindo a Rádio Difusora Carijós, de São Francisco, consegui um horário dominical para produzir e apresentar um programa musical. Como me dei bem e consegui bons patrocínios, ganhei um espaço diário. Pegava o ônibus da Guaratuba todo dia, às 6h30, apresentando o programa das 8h ao meio-dia. A tarde era reservada para a busca por anunciantes, quase todos de ville”, relembra Pavesi, que ainda guarda cartas e cartões que recebia dos ouvintes.

Em 1990, teve uma rápida agem pela Difusora de ville, antes de assumir como telefonista no Hospital Regional, onde fora aprovado em concurso (num tempo sem cotas para deficientes). Nos anos 90, exercitou o voluntariado, na paróquia do bairro e no CVV (Centro de Valorização da Vida).

Alguns anos depois, outra aprovação em concurso público o levou à Prefeitura, primeiramente na Fundamas e, desde 1997, na biblioteca. “Meu irmão Odair, jornalista, já havia trabalhado na biblioteca, e consolidei a formação do acervo em braile, iniciando também a prateleira de audiolivros.” Hoje, o setor contabiliza 410 títulos em braile e quase 500 audiolivros. Além da coordenação, a rotina de Osmar Pavesi inclui a digitalização de livros. “Como preciso ler de tudo, não elejo nenhum gênero como favorito”, salienta.

 

Divulgação/ND

De beca, com o diploma da faculdade de pedagogia em mãos: o início de uma jornada ampliada com pós-graduação e que o levou também para a sala de aula como professor de Libras

 

Há sete anos, Pavesi dobra a jornada de trabalho, como professor de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) e braile na escola mantida pelo Sesi. E aos sábados viaja por cidades da região, dando aulas de braile pelo Censupeg (Centro Sul-brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação).

Como professor, Pavesi justifica a sensação de que tudo em sua vida foi acontecendo de forma natural. “Quando decidi voltar a estudar, em 2004, fiz a faculdade de pedagogia, seguida de pós em educação especial e inclusão. Hoje coloco a teoria na prática.” Ele acabou influenciando a mulher, Cibele: “Quando nos conhecemos, ela frequentava a biblioteca como aluna de direito. Formou-se, mas hoje cursa pedagogia e ensina Libras”.

Presidente da Ajidevi de 1993 a 1997, Osmar Pavesi ainda vê (com os olhos de quem sente) a necessidade de avanços na inclusão de deficientes. “Calçadas ruins e transporte deficiente não são exclusividades de ville, a realidade é brasileira. Aos próprios cegos, falta participar mais de atividades variadas, não se limitando ao que é proporcionado pela Ajidevi”, conclui, convidando a comunidade cega a conhecer o acervo da Biblioteca Pública.

 

Divulgação/ND

Vivendo e curtindo o melhor que a vida oferece: um eio de caiaque em Porto de Galinhas

Aprenda Libras

Osmar Pavesi aproveita para anunciar o curso de Libras nível 1 do Sesi, que começou dia 18 e ainda tem vagas. Informações pelos telefones 47/3422-5054 e 9945-4969.

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