
Entre os mais de 1.600 produtos que ocupam o CRAB (Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro), no Rio de Janeiro, é impossível não se encantar com o trabalho minucioso, sensível e carregado de memória afetiva da artesã de SC, Vanir Zanin, da Arte Palha de Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina.
Em meio à exposição “Sinta o Sul – Bioma Mata Atlântica”, que reúne expressões culturais dos três estados do Sul do país, Vanir se destaca ao transformar a palha de milho em arte: bonecas, flores, mandalas e presépios — criações que entrelaçam ado, natureza e identidade territorial em cada fio.
Memória afetiva 44w2s
Vanir iniciou sua trajetória no artesanato aos 50 anos, mas sua relação com a palha de milho remonta à infância. As bonecas rudimentares, com cabelos coloridos, feitas para brincar nos dias de roça, permaneceram vivas em sua memória.
O reencontro com essa matéria-prima aconteceu quase como um chamado: ao visitar a mãe e se deparar com uma espiga, foi invadida por lembranças e decidiu criar sua primeira boneca. O encantamento dos amigos e familiares foi o impulso necessário. “Desde então, nunca mais parei”, afirma.

Hoje, Vanir não apenas confecciona suas peças: ela cultiva o milho, colhe manualmente e prepara a palha com cuidado e respeito. “Seleciono com atenção, do jeito certo, para garantir um artesanato de qualidade. O meio ambiente é nossa fonte de tudo”, ressalta.
Todo o processo é conduzido em harmonia com os ritmos da natureza e os limites do próprio corpo — mais do que técnica, é um modo de viver e preservar.
A herança também se manifesta com força. Sua avó já trabalhava com palha e, em Xanxerê — conhecida como a capital do milho —, essa matéria-prima possui valor simbólico profundo.

Manter viva a história 6fb5k
Para Vanir, perpetuar esse saber é manter viva a história de sua terra. “A palha simboliza nosso município e toda a região. É o que nos conecta com nossas raízes.”
Apesar do reconhecimento crescente, ela aponta um desafio persistente: a valorização do artesanato como ofício e meio de sustento. “Aqui na nossa região, ainda se vê o artesanato como atempo.
É preciso reconhecer que ele movimenta cultura, economia e identidade. Cada peça feita à mão carrega uma história e tem um valor que vai além do objeto final.”

Ver suas obras expostas no CRAB, em plena Praça Tiradentes, é a realização de um sonho. “Receber esse reconhecimento toca o coração. Saber que alguém olhou para o meu trabalho e viu valor nele me emociona profundamente”, revela.
Vanir molda a memória com as mãos — com fé, delicadeza e o desejo genuíno de tocar o outro por meio da beleza. “A inspiração vem de Deus. Vejo na mente e crio com o coração. Quero que as pessoas sintam pureza, delicadeza e iração pelo que é belo.”
A curadoria da mostra é assinada pela consultora Silvia Baggio, credenciada ao Sebrae/SC e especialista em cultura e criação.
“Nesta exposição, Vanir apresenta uma coleção inspirada na vida no campo, no trabalho com a terra e nas relações familiares formadas, sobretudo, com a chegada dos colonizadores. Suas peças são originais e não am por processos de tingimento: a pigmentação das palhas vem das sementes que ela mesma seleciona”, destaca.

Exposição 2t6f2h
Santa Catarina participa do evento com 130 artesãos e mais de 850 produtos. Nada disso seria possível sem a atuação essencial do Sebrae, que promove, apoia e acredita no artesanato como expressão cultural e ferramenta de desenvolvimento sustentável.
A exposição “Sinta o Sul” reflete esse compromisso com a cultura brasileira. Com espaços como o CRAB, o Sebrae amplia a visibilidade dos saberes tradicionais, oferecendo estrutura e reconhecimento aos artesãos.

A instituição atua como ponte entre o fazer artesanal e o mercado, conectando histórias como a de Vanir ao cenário nacional. É a presença da mulher rural, da sabedoria ancestral que brota da terra.